Em que fase se inicia o que se pode chamar de "treino" para o voo livre? Logo a partir do desmame.
O desmame é para o papagaio uma fase muito importante, é nesta fase que ele aprende a comer sozinho mas também é quando está mais apto a aprender.
Para o papagaio, a fase de desmame pode ser considerada a fase em que começa a comer sozinho e começa a deixar de precisar de ajuda para se alimentar, mas esta é uma fase que deve ser prolongada tanto quanto acharmos necessário em função do desenvolvimento do papagaio, existe a teoria que esta espécie de papagaio desmama aos x meses e aquela espécie aos tantos, mas isso está errado, para cada papagaio existe um timing e é nossa obrigação enquanto donos descobrir esse timing e fazer dessa uma fase positiva para o papagaio, aproveitando ao máximo esse timing para construir uma relação bem sólida com o papagaio.
Quando a ave está coberta de penas, deve iniciar-se o processo, reduzindo um pouco a papa da manhã ou diluindo um pouco mais de forma a ficar cheio mas a digerir mais rápido. Antes de todas as refeições deve-se tentar dar pedacinhos de comida, (maçã, sementes demolhadas, ração partida em pedacinhos pequenos) colocando-os no bico do papagaio na esperança que este os comece a roer e depois a engolir. O facto de estarmos a ensinar o papagaio a comer sozinho não quer dizer que se retire a papa, mas sim que se reduza, muito gradualmente, para que o papagaio sinta necessidade de se alimentar.
Quando o papagaio começar a engolir alguns pedaços, podemos então retirar a refeição do meio-dia e nessa altura dar-lhe pela mão mais uma vez, sementes demolhadas, maçã, banana, pedacinhos de bolacha Maria, ração partida aos pedacinhos. Podemos também nesta fase começar a dar de manha ração demolhada e esfarelada tipo papa, pela seringa para que se habitue ao sabor da ração. A refeição da noite é a mais importante mas também é a que está num horário mais propicio a que tenhamos tempo disponível para o papagaio, como tal, nessa hora devemos tentar que coma por si próprio, dar-lhe no bico, nesta fase até girassol é bom, pois por norma os papagaios vêm ensinados a descascar girassol e assim começa a aprender a engolir sólidos.
Nesta fase também é muito importante que se comece a estimular o desenvolvimento da motricidade. Para os papagaios, a motricidade é muito importante ser estimulada quando ainda não voam para que quando começam a voar, aterrar seja mais fácil.
Gastar tempo a colocar comida no bico do papagaio e a fazer com que aprenda a comer sozinho é tempo bem gasto, além de o estimular a desmamar, é tempo de criação de laços que ficarão para sempre. Pode ser feito a qualquer hora, como bebes, estão sempre prontos a comer. Nunca se pode forçar nada, se o papagaio não quer comer aquilo não vale a pena insistir, mais tarde irá comer, muitas vezes queremos que gostem disto ou daquilo porque é o mais saudável, mas na fase do desmame isso não deve ser levado em conta, devemos variar o máximo possível os sabores mas se não quiser este ou aquele, não é preocupante. Estes momentos também são óptimos para iniciar o sentido de reforço positivo, que se ensinado desde bem cedo permite no futuro ter tudo do nosso papagaio. Quando se está a dar comida pela mão, deve-se faze-lo num local com espaço para que o papagaio possa caminhar e assim atrai-lo à mão para receber o que temos para ele, assim estaremos a estimular a motricidade, o cérebro, a educação e a construir relação de amizade. Colocamos o papagaio numa ponta da mesa, e chamamos para a outra, como o que quer é estar perto, vai ter com a mão, assim que chega perto damos um pedacinho e uns mimos, depois mudamos a mão para o outro lado e repetimos, quanto mais vezes repetirmos melhor.
Nesta fase também é importante mostrar ao papagaio o mundo em seu redor. Quando chegamos a casa depois do trabalho, sempre temos coisas para fazer antes de poder estar dedicado ao papagaio, então, juntamos o necessário ao agradável, colocamos o papagaio no ombro e levamos a fazer as coisas que temos de fazer dentro de casa, seja preparar algo no computador, seja preparar ferramentas, seja o que for, até mesmo se tiver de pendurar um candeeiro no tecto e fazer furos com o berbequim, o barulho ao inicio vai assusta-lo mas mostra-se que não faz mal e é mais um medo ultrapassado. Quanto maior a variedade de situações que puder ver e observar, mais confiante o papagaio se sentirá no seu ombro e com ele próprio. Passear na rua nesta fase só se for com um fio na anilha de modo a que não possa voar e caso esteja uma temperatura agradável que não lhe seja frio. Mostrar ao papagaio toda a casa, passear com ele no ombro de um lado para o outro, quanto mais contacto tiver com o papagaio nesta fase mais apegado ficará a si. Muito importante também nesta fase é que o papagaio possa ser sociabilizado, chamar o maior número de amigos, dois ou três de cada vez e pedir que tenham contacto com o papagaio, que peguem nele, que o acariciem, quanto mais sociabilização tiver, menos medo terá de estranhos e menos agressivo será com estranhos quando for adulto.
O que é mais recomendado para quem pretende ter um papagaio é sem duvida adquiri-lo quando ainda come papa duas vezes por dia como falei em Aquisição do papagaio. Para tal é necessário preparar as coisas para receber o novo membro da família. Vou descrever tudo tendo em conta que nesta fase o papagaio já está coberto de penas, se decidir criar desde mais cedo, exige outro tipo de condições.
Antes de mais, devemos pensar como iremos garantir a temperatura ambiente mais quente para que o papagaio possa ficar num ambiente adequado à sua idade, se for no verão, provavelmente uma caixa de cartão que se fecha à noite numa divisão da casa onde a temperatura não baixe com o cair da noite, ou deixar um aquecimento ligado nessa divisão apenas para garantir cerca de 28 graus. Se for inverno, já convém ter uma caixa de madeira com uma lâmpada de aquecimento e uma ventoinha tipo computador para circular o ar.
Nesta fase o papagaio já tem o corpo coberto de penas e já se aguenta bem com alguma oscilação mas quanto mais prevenirmos melhor, e o ideal é que tenha temperatura constante, mas na natureza também não a tem, pois quando os pais saem do ninho, este fica bem mais frio do que quando lá estão, mas passam lá a noite.
Depois da caixa preparada, da papa comprada, do papagaio adquirido, depois do papagaio estar ambientado à sua nova casa, está na hora de comer a primeira vez na casa nova e ou já passaram algumas horas e está mesmo cheio de fome ou o papagaio irá ter tendência para se afastar das novas mãos que trazem a seringa, muita atenção a este ponto, se for atrás dele e lhe der a comida, estará a recompensar que fuja de si, nas primeiras vezes que se alimenta o papagaio recém chegado deve-se ter o cuidado de o “obrigar” a aproximar-se para receber a comida, nunca ir atrás dele e dar-lhe. Ao “obrigar” o papagaio a vir comer da seringa perto da mão, sendo que tenha de se aproximar para chegar perto, estamos a ensinar que aproximar-se de nós é bom, traz comida.
Depois, nas seguintes refeições ir aumentando o grau de exigência, perto não chega, tem de subir para o dedo antes de comer e depois irá começar a fase de aprender a voar e aí terá de voar para a mão para receber comida, com isto estaremos a ensinar o papagaio que voar para nós é bom.
Mas tentando ser um pouco mais preciso no que diz respeito a esta fase tão importante, devemos repetir o máximo de vezes possível cada comportamento que desejamos. O “obrigar” a aproximar-se para comer significa estar perto, ao alcance do papagaio e para que este se possa aproximar facilmente da ponta da seringa, estando o nosso dedo no meio entre o papagaio e a seringa. O papagaio como está com fome irá aproximar-se para obter a comida e assim que dê o primeiro passo na nossa direcção, devemos dar a primeira “dose” da seringa(+/- 1ml) e repetir até que ande uns passinhos até chegar à seringa, ou seja, cada vez que recebe comida da seringa é porque se deslocou na nossa direcção, não basta que ande uns passinhos para perto e ali fique a comer toda a papa que temos no copo. Se o papagaio já chegou ao limite da mesa onde o estamos a alimentar, devemos recolocá-lo na outra extremidade e assim tornar a chamar para que vá avançando na direcção da mão e da seringa. Este trabalho pode parecer desnecessário pois se já veio para perto para comer, porque não dar-lhe a comida ali mesmo e está bom? Lá está, os papagaios como nós humanos são “programáveis”, se desde bem cedo formos habituados a algo, no futuro isso será algo “automático” que acontecerá naturalmente e ao estar a apenas dar a comida quando se aproxima, vai fazer com que o cérebro do papagaio fique “programado” para vir ter connosco pois sabe que somos a fonte da alimentação.
Sempre que se dá comida, deve-se aproveitar o momento, numa fase mais avançada, o papagaio quererá começar a bater as asas e a aprender a voar, aí mais uma vez, a seringa é um aliado ao ensino, o papagaio no inicio irá bater as asas sem sair de onde está, até que quererá levantar voo para algum lado, assim que se percebe que o papagaio começa a querer voar, aproveita-se antes de começar a dar comida, quando está mais leve, tem o papo vazio, e aventura-se mais pela comida. O que fazer? Colocar o papagaio num local onde ele sinta confiante e chamá-lo mostrando a seringa, ele irá voar as primeiras vezes e nas primeiras vezes não deverá conseguir pousar logo no braço, provavelmente voará para o topo dos armários ou para um local alto, o que é normal pois é o que mais facilmente fazem quando estão a aprender a voar, subir, subir é o mais fácil, descer o mais difícil e aterrar, bastante complicado, mas como “papás” babados e pacientes que somos, damos mais hipóteses, recolocamos no local de onde levantará voo e tornamos a chamar, só dando comida quando aterra em nós. Muitas vezes levantam voo e até vêm na nossa direcção, basta colocarmos a mão à frente para que se agarre e aí já podemos dar um bocadinho de comida, mais uma vez, recolocamos no sítio de onde levanta e tornar a chamar, umas 5, 6 vezes que deve ser mais ou menos quando já tem algum peso no papo e fica mais difícil voar. Nessa altura, vamos para o habitual local de alimentação e damos o resto num mesmo sitio para que sinta segurança e que se alimente até ter o papo cheio que é quando já não conseguiria voar de certeza .
Depois do papo cheio, não devemos logo recolocar o papagaio na sua caixa, podemos aproveitar o momento em que o papagaio estará mais tranquilo, para lhe dar um auxílio na limpeza das penas, especialmente as que estão em volta do bico que são as que ficam mais sujas de papa que depois de seca sai bem. Depois da limpeza feita, um colinho para que durma meia horita é um mimo que ajuda em muito a criar um laço afectivo bem forte…
Aves criadas à mão sempre são mais dóceis que criadas pelos pais e domesticadas depois. E criar à mão não é uma brincadeira, mas também não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, basta seguir à risca o método e ter muita atenção aos pormenores que por vezes são o que faz a diferença. Há vários pontos que são essenciais: - Criar as condições de temperatura e humidade correctas para a espécie a criar.
Ter muito cuidado em retirar todo o ar da seringa antes de começar a dar a papa, para que não entre ar no papo. - Ter muita atenção ao tempo durante o qual se insere alimento no bico da ave para que esta respire facilmente e nunca entre comida para os pulmões, a ave deve engolir ao seu ritmo. - NUNCA dar comida sem que a ave tenha o papo totalmente vazio. - Ter muita atenção à solidez da papa, demasiado aguada não alimenta o suficiente, e demasiado consistente seca no papo e pode levar à morte da ave, em caso de dúvida, mais vale um pouco mais aguada.
Não limitar o contacto com a ave aos momentos de alimentação, antes de cada toma deve ser dada atenção à ave, conversar com ela, pegar-lhe com cuidado para não apertar o papo, depois da alimentação deixar a ave dormir no nosso colo desde que a temperatura ambiente o permita. Quanto mais intimidade houver mais dócil a ave se tornará.
O desmame é uma fase muito importante, deve ser feito de forma muito gradual. Ir reduzindo a quantidade de tomas diárias suavemente, se comia 4 vezes por dia e vai passar a comer só 3, deve ser dia sim dia não durante uma semana ( 1 dia come as 4 vezes, no dia seguinte as 3) e só depois dar apenas as 3 todos os dias e usar o mesmo método até ao desmame total, em que quando se deixa de dar alimento via seringa, se dê dia sim dia não durante ainda umas duas semanas para que o desmame seja o mais suave possível e a ave não emagreça. Depois de ter em conta estas "regras" básicas, penso que quase todos os amantes de aves podem aventurar-se a criar uma ave à mão. No inicio do desmame, faz parte das nossas funções, ensinar a ave a comer. A fruta, é dos alimentos que primeiro pegam, quando o papagaio está a comer apenas as duas vezes por dia, serão de manhã e à noite. Durante o dia, deve ser deixado ao alcance do papagaio, alimento para que vá descobrindo por si só como se come. O ideal é que se possa deixar, fruta partida em pedaços pequenos numa tigela, noutra, ração partida também em pedaços pequeninos para que os consiga segurar com o bico e comer uma parte, e numa terceira tigela, mistura de sementes para pombos demolhadas. Com estes alimentos à disposição, durante o dia, o papagaio vai começar a depenicar pois entre as refeições começa a sentir fome. Sempre que se possa, deve-se estimular o papagaio para que coma sozinho. Dar pela mão, fruta, ração partida em pequenos pedaços, ou qualquer alimento que o papagaio goste, é um bom estímulo para que coma sozinho e dispense a seringa, por isso, sempre que possível, tentar dar pela mão, até porque mais uma vez, estaremos a dar atenção e a criar laços com o papagaio.
Uma boa forma de habituar o papagaio ao sabor da ração que desejamos dar como base alimentar, é demolhar a ração durante umas horas, para que a possamos dar pela seringa, e assim, podemos fazer um mimo ao papagaio e mais uma vez, estar a ensinar algo novo. Ao fim da tarde, quando se chega do trabalho, podemos ter já a ração demolhada desde de manhã, e dar uns 15ml de ração demolhada, via seringa. Isto após tentar que coma sozinho a ração seca, partida em pedaços pequenos e dada pela mão.
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